O parque de diversões
Há um dito popular que diz que se você não tentar o que deseja nunca saberá se terá uma resposta negativa ou positiva. Na época em que Emilie e Camille eram apenas amigas, Emilie pensava freqüente mente nele. Mas reprimia essa ideia por que temia perder aquela amizade, já que demorara a restabelecer seu estado psicológico. Porém a vida é um labirinto onde não se sabe o que vem após cada curva. O labirinto de Emilie teve um curva, após vários quilômetros em linha reta, quando conheceu Camille. E ela mal sabia que naquele escuro caminho, onde seguia tateando as paredes, encontraria uma curva diferente.
Era mais um dia normal na escola, mas a apartir do momento que a diretora passou através da porta da sala de aula de Camille e Emilie tudo se modificou. A diretora apareceu na sala com feições tensas e preocupadas, procurando por Camille. Esta se espantou. As duas foram conversar em particular. Um certo tempo se passou desde que saíram, então Emilie decidiu procurar a amiga:
- Professor, posso ir ao banheiro? – Perguntou.
- Pode, mas não demore. – Respondeu o professor. Emilie sabia exatamente aonde ir e não estaria mentindo para o professor. Era aquele banheiro perto da escada, o lugar peferido de Camille para assuntos pessoais. Ao chegar lá, Emilie encontrou o lugar, aparentemente, vazio. Mas ela conseguia ouvir soluços vindos de um dos reservados.
- Nossa, Camille está demorando. O que será que aconteceu? – Perguntou-se em voz alta, abrindo a torneira para fingir lavar as mãos. Era uma tática que sempre funcionava se quisesse saber quem estava no reservado.
- Emilie, é você? – Perguntou uma voz fanhosa.
- Sim. E você? – Quis saber, mas em tom de brincadeira.
- Sou eu. – Respondeu Camille abrindo a portinha. Emilie se espantou ao ver a amiga chorando, com o rosto vermelho e molhado.
- Camille... O que aconteceu? – Perguntou aproximando-se.
- É que...... minha avó, ela faleceu... – Camille voltou a chorar compulsivamente.
- Ah!Eh... Eu não sei o que dizer... Meus pêsames... – Ao dizer isso abraçou a outra, que estava sentada, e ficou acariciando a cabeça da amiga. As lágrimas não paravam de rolar e eram secas pela blusa de Emilie. Esta já estava se desesperando por não conseguir fazer nada. – Por favor, pare de chorar. Se não vou chorar também. – Mas Camille nada respondeu. Desesperando-se por completo, Emilie, com os polegares, secou as lágrimas de Camille e beijou seus lábios. Para surpresa de Emilie, seu beijo não fora recusado. Quando se separaram, viu que a amiga demonstrava confusão. – Me desculpe! Perdão eu não queria.... Só estava me sentindo inútil perante a situação... – Ela não concluiu pois Camille saltara para seus braços, beijando-a novamente. Elas iriam ao chão se não fosse a parede. A essa altura Camille já passara os braços pelo pescoço de Emilie. Esta ficou assustada por ser beijada repentinamente pela pessoa que amava secretamente.
Camille não sabia que aquele ordinário dia em sua vida seria cheio de surpresas. Quando viu a diretora em sua sala de aula, logo percebeu que algo sério acontecera. Sua sala era uma das mais tranqüilas de toda escola, não havia motivo obvio para a presença da diretora ali. Antes de ouvi-la chamar seu nome, Camille teve um mal-estar. Após acompanhar a distinta senhora, ela percebeu que a situação era grave:
- Senhorita Camille, sinto ser portadora de tais notícias, mas devo lhe informar que recebi uma ligação de sua mãe avisando que sua avó faleceu esta manhã. – Informou finalmente a diretora.
- A..... – Sem mudar a expressão, lágrimas começaram a rolar involuntariamente dos olhos de Camille. – Obrigada por avisar. Poderia eu permanecer fora da classe por mais algum tempo?
- Disponha do tempo que precisar. Com licença. – Respondeu e saiu deixando Camille com sua tristeza.
A principio, Camille fora para a escada, mas se ficasse lá as pessoas perguntariam o motivo do choro. Decidiu que o banheiro era o melhor lugar. Depois de muito chorar, Camille escuta alguém entrar no tal banheiro. Conseguiu prender o choro, mas não conseguiu parar de soluçar.
- Nossa, Camille está demorando. O que será que aconteceu? – Perguntou uma voz conhecida a Camille.
- Emilie, é você? – finalmente falou.
- Sim. E você? – Perguntou Emilie sem esconder o tom brincalhão.
- Sou eu. – Respondeu Camille abrindo a porta do reservado, onde se encontrava sentada sobre a tampa do sanitário, e encontrando uma amiga com feições preocupadas.
- Camille... O que aconteceu? – Perguntou aproximando-se.
- É que...... minha avó, ela faleceu... – Revelou voltando a chorar desesperadamente.
- Ah!Eh... Eu não sei o que dizer... Meus pêsames...- disse abraçando a amiga e ficou a afagar sua cabeça. Camille sentiu que não precisava de mais nada. Ela poderia ficar ali, nos braços da amiga, chorando eternamente. - Por favor, pare de chorar. Se não vou chorar também. – Camille não conseguiu dizer uma palavra. Ela reparou quando Emilie secou suas lágrimas com os polegares, mas não conseguiu processar o que aconteceu depois. Aqueles lábios que tanto desejava possuir novamente estavam colados nos seus. Era exatamente como conseguia se lembrar. - Me desculpe! Perdão eu não queria.... Só estava me sentindo inútil perante a situação... – Camille não queria ouvir desculpas, ela só queria possuir mais e mais aqueles lábios. Não se controlando, saltou para os braços de Emilie e a beijou fervorosamente. A parede parou o que seria uma queda ao chão.
No dia seguinte, todos já sabiam que a senhora avó da Camille havia falecido. Muitos apenas por interesse diziam sentir por aquela morte. Emilie e Camille agiam como se nada tivesse acontecido. No enterro havia muita gente, pessoas que Camille nunca vira na vida. Emilie estava lá, segurando a mão de Camille. Os pais desta não gostaram muito da presença dela, mas aquela senhora que jazia agora naquele túmulo simpatizava com a jovem. Camille chorava silenciosamente enquanto aquelas pessoas estranhas falavam sobre sua avó. Quando o caixão foi descido para a cova, Camille abraçou Emilie, encostou a cabeça um pouco acima do colo, pois elas eram quase da mesma altura, e desabou a chorar e soluçar silenciosamente. Emilie, igualmente em silencio, a consolava e afagava sua cabeça com a mão que estava livre.
Os dias passavam. A lembrança daquele fatídico dia atormentava a mente das duas, porém continuavam a agir como se isso fosse insignificante. Emilie já não conseguia se controlar como antes e depois de pensar arduamente decidiu contar o que sentia.
- Camille, preciso te contar algo muito importante. – Disse Emilie subitamente. Estavam na escada sozinhas, um momento raro, já que todos ficavam com elas por serem bem populares e Francis estava de caso com uma garota líder de torcida.
- Importante... Isso parece sério. Pode falar. – Respondeu sorrindo, mas internamente estava tremula e seu coração batia apressadamente.
- É que não é algo que se possa falar aqui... – Continuou Emilie enrubescendo e mexendo freneticamente as mãos.
- Entendo. Onde você gostaria de conversar isso, então? – perguntou tentando parecer tranquila.
- Eu não sei... Por que você não escolhe? Só não pode ser um lugar muito cheio... – Respondeu tentando olhar para Camille.
- Já sei! Depois da aula nós vamos a um parque de diversões! – Anunciou animadamente.
- Mas...
- Vai ser ótimo! – Antes que Emilie pudesse protestar o sinal para voltar à sala tocou.
Ao final das aulas as duas partiram para o parque de diversões da cidade. Lá elas se divertiram, riram, brincaram. Emilie não entendia porque Camille escolhera aquele lugar que a cada minuto ficava mais cheio. Quando perguntou, ouviu que a outra apenas queria ir lá. Ao entardecer, Camille arrastou Emilie para a roda gigante. Esta se viu em uma cabine razoavelmente grande sozinha com Camille. Esta era sua chance.
- Camille, é muito importante o que tenho pra te dizer, pelo menos pra mim. – Começou Emilie.
- Estou ouvindo. – Respondeu olhando pela janela.
- Sinto muito, eu pretendia esconder isso de você para sempre. Até que “aquilo” no banheiro da escola aconteceu. – Emilie estava nervosa e seu coração batia mais rápido que nunca. Mas sentia-se meio decepcionada por Camille não parecer interessada no que ela estava dizendo. Esta olhava o cenário do lado de fora da cabine, justamente por não conseguir olhar para Emilie. Seu coração acelerava a cada palavra que escutava, porém sua expressão continuava imóvel. – Eu t...Venho sentindo isso a muito tempo... Eu te amo, há muito tempo. Eu gosto de você com todas as forças do meu ser. Até aquele dia consegui me controlar, mas ver você chorar daquela forma... eu não resisti.... – Camille escutava tudo atentamente e sentia-se feliz por finalmente ser capaz de escutar aquela declaração, mas ainda não tinha coragem para olhar para Emilie. Esta estava começando a se sentir ignorada, já que sua amada não a olhou u,a vez sequer. – então vou entender se não quiser ser mais minha amiga. Vou sim... – Camille começou a rir subitamente e então olhou para Emilie finalmente. Emilie corou.
- Hehe sua bobinha. – Deu um sorriso e parecia corada. – Eu nunca seria capaz de te odiar por causa disso. Por que eu odiaria a pessoa que me é mais cara? – Emilie ficou confusa. Camille se aproximou. E ela o fez em silencio. Parou a frente de Emilie, acariciou sua face. – Ah!Como eu gosto de você. – Ao dizer isso a beijou. A luz alaranjada do crepúsculo passava livremente pelas amplas janelas.
- Eu...
- Não diga nada. Já estava na hora de acontecer. – Camille sentou-se ao lado de Emilie, apoiou a cabeça nos ombros dela e segurou sua mão. Ficaram assim até a roda gigante dar a volta completa.
- Camille, você quer namorar comigo? – Perguntou Emilie , um pouco antes do funcionário abrir a porta.
- Quero. – Respondeu sem ao menos para pensar. Ao mesmo tempo em que Camille beijou suavemente a face de Emilie o funcionário do parque abriu a porta. Elas saíram de mãos dadas, cada uma com um sorriso no rosto. Aproveitaram o resto do que sobrava do dia.
A partir deste dia, Emilie nunca mais andou sozinha pelo labirinto chamado vida. Agora ela andava de mãos dadas num labirinto conjunto com a pessoa que mais amava.
Capítulo Especial 3 - Fim